terça-feira, 12 de março de 2019

Póstumas 2.0

Eu tenho o costume de me esconder através de um escudo. Ninguém entra na minha vida de porta escancarada, ou eu abro devagar, ou a pessoa arromba mesmo. Mas meu escudo é flexível, ele é maleável. A minha guarda vai descendo com o tempo, nada comigo é de uma hora pra outra. Quando eu sinto, eu sinto de verdade, eu sinto com coração, mas mais ainda, eu sinto com a mente. Amar pra mim é racional. A passionalidade nos torna burros. Experiências são válidas sempre, as boas, e principalmente as ruins. A reflexão é fundamental. O crescimento é consequência. O lamento é opcional. E eu lamento, lamento as vezes não ter oferecido tudo de pronto, outras lamento tê-lo feito. Mas em hipótese alguma eu lamento as escolhas que fiz. Escolhas geram renúncias. Perda. E o que é perder? Perder pode significar abrir espaço pro novo, perder pode significar ganhar no futuro. 

Eu tenho o costume de ver o lado bom das coisas. De sempre pensar que o universo, ou Deus, me livraram de coisas piores. Dói, não tem como dizer que não dói, mas dói de uma forma suportável. Dói de uma forma reflexiva. Os meus porquês são sempre todos respondidos, pode levar tempo, mas são. E eu me sinto confortável com essas respostas. Me completa saber que no fim a explicações são simples e fáceis. É só uma questao de perspectiva.

Eu tenho o costume de voltar ao passado. Eu gosto de ler textos antigos, conversas gigantes, fotos e vídeos. E é isso que me faz refletir. Me faz enxergar onde eu errei, onde eu acertei, o que eu fiz e o que eu deixei de fazer. Nem sempre é instantâneo, e algumas vezes eu demoro a compreender os meus erros. Não me culpo por essa demora, acho que é de nós mesmos culpar o outro antes de assumir.

Eu tenho o costume de me mostrar inteira. Eu posso não deixar que entrem na minha vida de uma hora pra outra, mas eu não escondo quem eu sou e como eu sou. Eu não tenho um roteiro pronto, mas eu sou bem definida em algumas coisas, eu sou impulsiva quando se trata dos meus amigos, eu sou fechada quando se trata de afetividade, e isso é medo. Medo porque até que seja o último, todos os relacionamentos até lá terão um fim, e eu já falei aqui, não uma, nem duas vezes, que eu odeio fins. Talvez eu odeie os fins não pela perda em si, mas pelo recomeço. Recomeçar é difícil. Passar por todo aquele processo de novo é complicado. 

Eu tenho costume de viver o momento. Carpe diem. Eu não me preocupo com o amanhã e isso não é um problema, pode ser quando eu tiver filhos, mas não é agora. Eu gosto de gastar meu dinheiro me divertindo, de ir a shows, de beber no boteco, de viajar. Não tenho hoje a pretensão de comprar um imóvel ou algo do tipo. Eu não quero me prender a lugar nenhum. Eu sei que é bom ter para onde voltar, mas é, eu sou um pássaro livre. E se eu pudesse dar um conselho pra todos que se relacionam comigo eu diria para apenas deixar a porta da gaiola aberta. Não tente me trancar em padrões patriarcais de relacionamento, não tente me manter presa a uma ideia fixa de vida a dois. A vida a dois é pra ser aproveitada com liberdade, confiança e amor. E o amor se molda. 

Eu também tenho o costume de me virar sozinha. É claro que eu sei que eu tenho com quem contar e onde me apoiar mas eu me basto. Eu preciso só colocar minha cabeça no lugar que eu realizo cada sonho meu. Só lamento perceber isso tarde demais, teria feito muito mais coisas na vida se tivesse compreendido antes. Mas vendo o lado bom de fazer isso tardiamente é ter mais firmeza nas escolhas e decisões. Sei exatamente o que eu quero, e principalmente eu sei o que eu não quero. E riscar da lista o que você não quer te dá opções variadas. Isso não é como muitos pensam um muro, eu definitivamente não estou tentando provar nada pra ninguém. Eu quero é provar pra mim mesma até onde eu posso ir, sozinha. 

Eu tenho o costume de escrever demais... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário